As consequências econômicas da pandemia da Covid-19, combinadas com conflitos e mudanças climáticas, estão levando a fome a níveis sem precedentes na África, e líderes africanos alertam que os riscos à saúde vêm aumentando com a diminuição do acesso a cuidados médicos.
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— A segurança alimentar é o começo da segurança da saúde — disse Ahmed Ogwell Ouma, vice-diretor dos Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças, em uma entrevista virtual na quinta-feira. — Quando nossas populações não têm uma boa nutrição, em geral isso significa que sua imunidade fica reduzida, e podem ser infectadas por diferentes tipos de doenças com muito mais facilidade.
O número de pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda em todo o mundo mais que dobrou, passando de 345 milhões, em 2019, a 811 milhões, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Em países como Nigéria, Sudão do Sul e Iêmen, o PMA já está dividindo as rações de alimento para alcançar mais pessoas.
Mesmo na África do Sul, a nação mais desenvolvida do continente, os preços mais altos de alimentos e dos combustíveis estão reduzindo os gastos das famílias com refeições nutritivas.
— Só esperamos que isso acabe rapidamente — disse o ministro da Saúde da África do Sul, Joe Phaahla, em entrevista em Cingapura na quarta-feira. — Se o cenário se mantiver até o próximo ano, será uma crise para nós.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vem ampliando as operações no Leste da África, à medida que o aumento dos preços contribui para a pior seca da região em 40 anos. Só nessa região, mais de 80 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar e recorrem a medidas desesperadas para se alimentarem e a suas famílias.
A OMS está montando um centro em Nairóbi, capital do Quênia, de onde enviará medicamentos para tratar crianças gravemente desnutridas. E também está trabalhando com os ministérios da saúde dos países mais afetados para estabelecer sistemas robustos de vigilância de doenças.
— Estamos em uma encruzilhada crítica — disse o diretor-geral da OMS para resposta a emergências, Ibrahima Socé Fall. — Embora a prioridade clara seja evitar que as pessoas passem fome, devemos simultaneamente fortalecer nossa resposta à saúde para prevenir doenças e salvar vidas.
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Os cientistas alertam que as variantes Ômicron e Beta da Covid-19 podem ter se desenvolvido em indivíduos imunocomprometidos, cujos sistemas imunológicos frágeis podem abrigar o coronavírus por meses, permitindo que ele se transforme em uma versão que é transmitida de forma mais eficaz, inclusive entre pessoas vacinadas. Ambas as variantes se espalham globalmente. Só a África do Sul tem 8,2 milhões de pessoas infectadas com HIV, de acordo com a agência nacional de estatísticas.
Antes da Covid-19, os líderes mundiais da área de saúde pretendiam acabar com a epidemia de tuberculose até 2030. A pandemia causou um revés substancial, com cerca de 1 milhão a menos de pessoas diagnosticadas e tratadas para a doença pulmonar em 2020 do que no ano anterior, de acordo com Lucica Ditiu, diretora-executiva da Stop TB Partnership, com sede em Genebra.
A guerra na Ucrânia representa um “duplo gatilho para a tuberculose”, afirmou ela, com seus efeitos inflacionários sobre o custo de vida, agravando a fome e outras privações. Cerca de um em cada cinco casos de tuberculose são causados pela desnutrição.
— A mortalidade por tuberculose aumentou pela primeira vez em 10 anos — disse Ditiu em entrevista em Cingapura. — Fomos empurrados para trás anos em termos do que tentamos fazer.