Um ano depois de os primeiros tanques russos invadirem a Ucrânia, a situação do conflito está tão estagnada quanto os avanços territoriais de ambos os lados em trincheiras enlameadas: congelada. Sem perspectiva de um acordo de paz, a guerra na Ucrânia enterrou de vez a ordem global do pós-Guerra Fria ao redesenhar alianças internacionais e despertar antigas tensões adormecidas.

Esta reportagem faz parte da série especial do Estadão sobre o primeiro ano da guerra. Ao longo dos próximos dias, a cobertura do jornal abordará o papel do Brasil na guerra, as perspectivas do conflito para o futuro, os arsenais dos dois países envolvidos nos combates e o drama dos refugiados.

Para analistas, 2023 é o ano fundamental para definir o que será do mundo pós-guerra. Se o conflito escalar, será neste ano. E se a guerra escalar de vez, pode se tornar um conflito global e reavivar disputas regionais e conflitos locais. “A melhor maneira de Putin retaliar o apoio ocidental à Ucrânia é alimentar crises em série em outros países. Uma crise no Oriente Médio, por exemplo, aumentaria os preços da energia, nos forçaria a lidar com mais uma crise”, afirma Walter Russel Mead, professor do Bard College, prestigiosa universidade americana. “Este pode ser o começo. A Rússia vai agir cada vez mais na zona cinzenta”.

 Ainda que o conflito não escale, ele já expôs uma profunda divisão global e os limites da influência dos EUA . O esforço para isolar Putin falhou, e não apenas entre os aliados russos que poderiam apoiar Moscou, como China e Irã.

A Índia anunciou na semana passada que seu comércio com a Rússia cresceu 400% desde a invasão. Nas últimas seis semanas, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, foi recebido em nove países da África e do Oriente Médio – incluindo a África do Sul, cujo ministro das Relações Exteriores, Naledi Pandor, saudou o encontro como “maravilhoso” e chamou a África do Sul e a Rússia de “amigos”.

“Não se trata de um ponto de inflexão geopolítica para o restante do mundo”, afirmou à revista Economist Shivshankar Menon, ex-diplomata-chefe da Índia,Menon. “Onde estamos, a falha sísmica geopolítica principal ainda é entre China e EUA — e a guerra na Ucrânia não altera essa situação”.

A invasão de Vladimir Putin à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, revitalizou a aliança militar do Atlântico Norte (Otan) — que se armou com seu primeiro novo conjunto de objetivos desde 1967, ano em que seus escritórios foram inaugurados.

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