Guerra comercial entre os EUA e a China ganhou novos rumos e deve impactar em vários setores produtivos brasileiros, como a exportação

Por Carla Melo

Produtos essenciais para setores econômicos do Brasil podem ser impactado – Foto: Divulgação/Porto de Santos

As tarifas impostas pelo presidente dos Estados UnidosDonald Trump, em parceiros comerciais parecem ter ido além do que analistas esperavam. Isso porque, nas últimas semanas, inúmeros países do mundo viram suas bolsas de valores e preço de ação em constante queda, forçando o replanejamento das relações comerciais e reações políticas diante do tarifaço. E esse impacto pode atingir a população brasileira

O que aconteceu?

Europa e Ásia registraram queda em seus mercados de ações que superam anos de superávit. Na segunda-feira, 7, logo após a abertura, o índice Dax na Alemanha caiu quase 10%, enquanto o FTSE 100 em Londres teve uma redução de quase 6%.

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As ações europeias despencaram 5% e as quedas nos EUA indicam queda em Wall Street após perder US$ 5 trilhões na semana passada. O índice Cac 40 da França está registrando queda de 7%.

Na Ásia, o principal índice acionário de Hong Kong sofreu sua maior queda desde 1997. O Shanghai Composite, da China, caiu mais de 8%, enquanto em Hong Kong o Hang Seng despencou 13% — o pior resultado em 28 anos. Os futuros de Nova York e as bolsas europeias afundam, sendo que a Bolsa de Frankfurt chegou a desabar 10% mais cedo refletindo o medo de uma recessão mundial.

Queda nos commodities

Analistas veem um forte impacto, não somente em uma possível recessão nos Estados Unidos, mas consequentemente, nos commodities com a redução de demanda. A preocupação de grandes empresas é com a desaceleração da demanda de componentes essenciais para a energia global, como o petróleo e o cobre.

O preço do petróleo bruto caiu cerca de 10% na semana passada. Na manhã desta segunda-feira, houve uma nova redução de 4%. Já o preço do cobre caiu cerca de 6% no início do pregão de segunda-feira antes de recuperar um pouco do preço.

Para a professora de economia do Insper, Juliana Ianhz, a guerra comercial entre as duas potências econômicas ganhou novos rumos, quando, em resposta ao tarifaço, o país asiático deu iniciativa a uma retaliação impondo também tarifas mais altas à economia norte-americana.

“As bolsas derretem porque as incertezas estão elevadas. Todo o mundo está achando que a economia mundial vai crescer menos, o que parece realmente um fato. Todo mundo enxergando que economia americana e economia chinesa podem estar aí diante de reveses dentro do seu processo de crescimento. Os investimentos cessam ou travam, diminuem em volume tanto aqui quanto lá fora. Ninguém quer ficar com produtos arriscados, então todo mundo vende bolsa. Esse movimento que a gente está vendo de venda de bolsas, os preços dos papeis sendo empurrados para baixo, dinheiro saindo do nosso país, taxa de câmbio subindo faz com que a incerteza esteja em alta. Se isso permanecer por um determinado tempo, os efeitos disso serão inflação mais alta e crescimento menor, explica a especialista.

E o impacto no Brasil?

Com a taxação mais alta sobre os produtos exportados aos países norte-americanos, muitos dos produtos essenciais para setores econômicos do Brasil podem ser impactados. Em fevereiro deste ano, o Portal A TARDE mostrou que cadeias importantes como a Construção Civil podem sofrer encarecimento diante das tarifas, mas além disso, outros principais componentes exportadores nacionais, que são as commodities, também sentirão essas perdas na economia.

“O minério de ferro, que é um produto que a gente exporta, está entre os componentes que serão mais sobretaxados pelos Estados Unidos. Assim também como o aço e o alumínio. Mas outras commodities, como a soja, que é o nosso carro-chefe, o milho, etanol, cana de açúcar são muitos dos setores que vão ser afetados justamente por conta do processo de desaceleração dessas economias mediante esse cenário. Quando o crescimento econômico realmente começa a dar as caras um tanto menor, as empresas lá fora também deixam de investir e forçam a gente a vender menos os nossos produtos”, disse a economista Juliana Ianhz.

Apesar dos receios diante dos efeitos negativos para o Brasil com as tarifas norte-americanas, há também os possíveis ganhos para o país com o atrelamento na economia chinesa, que continua sendo um dos maiores parceiros comerciais brasileiros.

Possíveis impactos positivos vão desde ganho de competitividade de produtos brasileiros no mercado americano, frente a produtos sobretaxados de outros países, a aumento das vendas de commodities para a China, já que o país tende a reduzir suas compras dos Estados Unidos.

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