Todos os moradores locais sabem que Veneza, na Itália, é uma floresta de cabeça para baixo.

A cidade completou 1.604 anos no dia 25 de março. Ela foi construída sobre as fundações de milhões de estacas curtas de madeira, socadas contra o solo com a ponta para baixo.

As árvores são lariços, carvalhos, amieiros, pinheiros, abetos e elmos, com altura que varia de 3,5 metros até menos de 1 metro. Elas sustentam os palácios de pedra e altos campanários há séculos, formando uma verdadeira maravilha da engenharia, que equilibra as forças da física e da natureza.

Na maioria das estruturas modernas, concreto reforçado e aço fazem o mesmo trabalho que esta floresta invertida mantém há séculos. Mas, apesar da sua força, poucas fundações atuais poderão durar tanto quanto as de Veneza.

“Estacas de concreto ou aço são projetadas hoje em dia [com garantia para durar] 50 anos”, afirma o professor de geomecânica e engenharia de geossistemas Alexander Puzrin, do Instituto Federal de Tecnologia (ETH) de Zurique, na Suíça.

“É claro que elas podem durar mais tempo, mas, quando construímos casas e estruturas industriais, o padrão é de 50 anos de vida”, explica o professor.

Apenas uma vez, no início da carreira, um cliente solicitou a Puzrin que oferecesse uma garantia de 500 anos, para a construção de um templo Bahá’í em Israel. “Fiquei meio que chocado, porque isso era incomum”, relembra ele.

“Fiquei muito assustado e eles queriam que eu assinasse. Liguei para o meu patrão em Tel Aviv [Israel], um velho engenheiro com muita experiência, e perguntei ‘o que vamos fazer? Eles querem 500 anos.'”

“Ele respondeu: ‘500 anos? [pausa] Assine.’ Nenhum de nós vai estar aqui.”

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